cinco pessoas saindo do escritório juntas

O trabalho híbrido ou home office não existirá mais? As empresas estarão cada vez mais adotando políticas obrigatórias de "volta ao escritório"? Quais são os motivos convincentes? Isso está alinhado com os requisitos dos colaboradores? E a flexibilidade?

Com a pandemia do COVID-19, o home office emergiu como uma solução rápida e necessária para manter as operações das empresas enquanto protegia a saúde e a segurança dos colaboradores. Com o retorno ao presencial, observou-se um movimento gradual para o modelo de trabalho híbrido e agora uma onda crescente do trabalho presencial obrigatório.

Empresas em todo o mundo estão reexaminando suas políticas de trabalho. O que parecia ser uma solução temporária pode estar se transformando em uma mudança mais permanente. Um número crescente de organizações está optando por estabelecer políticas obrigatórias de volta ao escritório, argumentando que o trabalho presencial oferece uma série de vantagens que não podem ser reproduzidas da mesma forma no ambiente remoto.

Quando observamos posições de áreas diretamente ligadas à operação, como manufatura e logística por exemplo, sempre prevaleceu o trabalho presencial. Em posições administrativas, como compras, finanças e RH, o modelo híbrido é mais praticado, sendo um ou dois dias da semana em casa, principalmente nas empresas multinacionais. Empresas nacionais e familiares se mostram mais interessadas no 100% presencial, independentemente da posição. Existem cenários em que o profissional é mais demandado pessoalmente, além de questões relacionadas à senioridade, carreira e tipo de projeto. É mais raro hoje em dia o modelo de trabalho 100% remoto, mesmo para áreas como tecnologia, explica Ana Borges, Gerente Executiva na Michael Page.

Principais motivos apontados para o trabalho presencial

  • Colaboração e Inovação: O ambiente de trabalho proporciona um espaço físico onde ideias podem ser trocadas livremente, facilitando a colaboração espontânea e promovendo a inovação. As conversas na pausa do café e as reuniões presenciais podem levar a insights valiosos que impulsionam o crescimento e o desenvolvimento da empresa.
  • Cultura Organizacional Fortalecida: O trabalho presencial facilita a construção e sustentação de uma cultura organizacional por meio do convívio diário com colegas de trabalho, estabelecendo relacionamentos mais profundos e promovendo um senso de pertencimento mais difícil de reproduzir virtualmente.
  • Aprendizagem e Desenvolvimento: Os espaços físicos frequentemente servem como centros de aprendizagem informal, onde  se têm a oportunidade de aprender uns com os outros por meio de troca e observação.

Perfis de empresas que apoiam o presencial

  • Empresas em setores mais tradicionais, como financeiro, jurídico, manufatura e varejo, tendem a favorecer o trabalho presencial devido à natureza do trabalho, que muitas vezes requer interações pessoalmente, supervisão direta e acesso a equipamentos ou instalações específicas.
  • Companhias com modelos de negócios estabelecidos e estruturas organizacionais mais tradicionais também são mais propensas a preferir o trabalho presencial, uma vez que estão menos inclinadas a experimentar novas formas de trabalho e são mais confortáveis com métodos tradicionais de gestão e supervisão.
  • Setores que lidam com informações sensíveis, como dados financeiros, propriedade intelectual ou informações pessoais dos clientes, também tendem a preferir o trabalho presencial devido à necessidade de garantir a segurança e a confidencialidade dessas informações.

Perfis de profissionais e seus modelos de trabalho preferidos

Quando eu conduzo alguma posição 100% presencial, tendo a perder em torno de 30% do potencial de candidatos, por não terem interesse em ir para escritório de segunda a sexta. São pessoas já habituadas ao híbrido. Contudo, empresas que adotam esse modelo de trabalho estão cientes e dispostas a correr os riscos, comenta Ana Borges.

As diferentes gerações tendem a ter perspectivas e preferências distintas em relação ao ambiente de trabalho e ao equilíbrio entre vida pessoal e profissional.

  • Geração Baby Boomer (nascidos entre 1946 e 1964): têm uma forte ética de trabalho e estão acostumados com a estrutura tradicional do escritório. Valorizam o contato pessoalmente e a comunicação direta no local de trabalho.
  • Geração X (nascidos entre 1965 e 1980): alguns podem preferir o trabalho presencial devido à familiaridade e à sensação de pertencimento que proporciona, enquanto outros podem apreciar a flexibilidade oferecida pelo trabalho remoto.
  • Geração Y (Millennials) (nascidos entre 1981 e 1996): geração que cresceu com a tecnologia e está mais acostumada com o trabalho remoto e a comunicação digital. No entanto, muitos também valorizam a colaboração e o desenvolvimento de relacionamentos pessoais, o que pode tornar o trabalho presencial atraente em certas situações.
  • Geração Z (nascidos entre 1997 e 2012): por ser nativa digital e altamente fluente em tecnologia pode preferir ambientes de trabalho mais flexíveis e digitais. No entanto, assim como os Millennials, também valorizam a interação humana e podem apreciar oportunidades para trabalhar ocasionalmente no presencial.

É importante notar que essas são generalizações ditadas conforme o contexto, mas que as preferências individuais podem variar amplamente dentro de cada geração. Além disso, fatores como cultura organizacional, setor da indústria e função específica desempenham um papel significativo nas preferências de trabalho presencial de um profissional, independentemente da sua geração. 

Temos visto movimentos da liderança para despertar um interesse genuíno e a vontade de ir ao escritório participar de eventos, reuniões e outras situações em que fazer de casa não tenha a mesma sinergia, explica Ana Borges.

Desvantagens do retorno ao trabalho presencial

Embora algumas empresas possam estar ansiosas para implementar políticas de trabalho presencial obrigatório, é crucial considerar seus impactos e as expectativas dos colaboradores.

  • Custos Associados: O retorno ao trabalho presencial significa enfrentar novamente o tempo e os custos associados à deslocação diária para o escritório, o que pode voltar a ser estressante e oneroso.
  • Maior Risco de Doenças e Ausências: Com mais pessoas reunidas em um espaço físico, há um aumento do risco de propagação de doenças contagiosas, o que pode levar a mais ausências por questões de saúde.
  • Menos Flexibilidade e Autonomia: Para muitos, o trabalho presencial significa menos flexibilidade em termos de horários e local de trabalho, o que pode ser uma desvantagem para aqueles que valorizam a autonomia e a liberdade do trabalho remoto.
  • Impacto no Meio Ambiente: O retorno ao trabalho presencial pode resultar em maior emissão de gases de efeito estufa devido ao aumento do tráfego e à necessidade de energia nos escritórios.
  • Barreiras para a Diversidade e Inclusão: O trabalho presencial pode criar barreiras para profissionais com deficiências, que se beneficiam do trabalho remoto para acessar oportunidades de emprego de forma mais equitativa.
  • Restrição Geográfica dos Candidatos: Com um retorno ao trabalho presencial, as empresas podem voltar a priorizar candidatos que residam próximos aos escritórios físicos. Isso pode limitar a busca de talentos, especialmente para funções que anteriormente eram abertas a candidatos remotos de qualquer lugar do mundo.
  • Flexibilidade Limitada para Candidatos Remotos: Profissionais que preferem ou necessitam de trabalho remoto podem encontrar menos oportunidades disponíveis. Isso pode levar a uma competição mais acirrada por vagas remotas, especialmente em setores em que este modelo é mais comum ou preferido.
  • Satisfação dos Colaboradores: Restringir o trabalho apenas ao presencial pode diminuir a satisfação dos colaboradores e aumentar a rotatividade, especialmente entre aqueles que buscam equilibrar responsabilidades pessoais e profissionais ou que preferem evitar deslocamentos diários para o escritório.
  • Eficiência Operacional e Redução de Custos: Trabalhar exclusivamente no escritório pode resultar em custos operacionais mais altos para as empresas, incluindo despesas com espaço de escritório, energia, suprimentos e outras despesas relacionadas. Além disso, a eficiência operacional pode ser comprometida devido a congestionamentos de tráfego, interrupções no transporte público e outros fatores que afetam a pontualidade e a disponibilidade das pessoas.
  • Reputação e Atração de Talentos: Empresas que adotam uma abordagem inflexível em relação ao trabalho presencial podem ser percebidas como antiquadas, inflexíveis ou fora de sintonia com as necessidades e preferências dos colaboradores. Isso pode afetar sua reputação no mercado de trabalho e sua capacidade de atrair os melhores talentos, especialmente em um ambiente competitivo.

É o fim do trabalho remoto?

Embora o trabalho presencial possa estar em ascensão, isso não significa necessariamente o fim do trabalho remoto. O retorno ao trabalho presencial apresenta uma série de vantagens e desvantagens que devem ser cuidadosamente consideradas ao decidirem sobre a melhor abordagem para o futuro do trabalho. As empresas precisarão ajustar suas estratégias de recrutamento para se adaptarem a essa nova realidade e garantirem que continuem a atrair e reter talentos para suas. Um equilíbrio entre as necessidades da empresa, as preferências dos profissionais e as tendências globais é essencial para criar um ambiente de trabalho produtivo e sustentável.

Ao adotar uma abordagem equilibrada e flexível, as empresas podem garantir que estão atendendo às necessidades tanto de seus negócios quanto de seus colaboradores. Embora o home office não seja apropriado para todas as empresas ou setores, é provável que continue a ser uma opção valiosa para muitas organizações no futuro, especialmente à medida que a tecnologia e as práticas de trabalho remoto continuem a evoluir. Portanto, é mais provável que o futuro do trabalho seja caracterizado por uma mistura de modelos de trabalho, conciliando interesses de organizações, profissionais e mercados. 
 

Mais do que o fim do remoto, vejo como a consolidação do híbrido, finaliza Ana Borges.

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